Os Quatro Passos para Melhorar o Acolhimento da Igreja
Essa herança não se
limita aos primeiros dias da Igreja. Ao longo da história, a comunidade
eclesiástica manteve essa vocação acolhedora. O apóstolo Paulo liderou
campanhas de arrecadação para socorrer igrejas em necessidade. Em suas cartas,
vemos o louvor à generosidade de irmãos e igrejas inteiras que se entregavam ao
serviço mútuo. Durante a Reforma Protestante, Lutero dedicou atenção especial à
assistência aos pobres, chegando a escrever estatutos que regulamentavam esse
tipo de ajuda como elemento indispensável à vida civil e eclesiástica. Mais
adiante, Calvino transformou Genebra em uma cidade-refúgio, onde os diáconos
atuavam com vigor no cuidado aos refugiados, marginalizados e sofredores.
Diante disso, é
inaceitável que a Igreja contemporânea negligencie o acolhimento. A diaconia é,
ao mesmo tempo, um chamado bíblico, teológico e doutrinário. Como temos
afirmado ao longo deste livro, o acolhimento é inseparável da fé cristã, pois
em Cristo temos o maior exemplo de compaixão e cuidado com os necessitados. Por
isso, o ministério diaconal precisa se levantar com força e convicção nos
nossos dias, para resgatar essa identidade e oferecer ao mundo um testemunho
vivo de que Jesus ainda acolhe por meio de sua Igreja.
Se a diaconia do
acolhimento é um chamado urgente para os nossos dias, então é necessário pensar
em passos concretos que levem a Igreja a reencontrar essa vocação.
O primeiro passo é a
conscientização.
Antes de qualquer ação externa, a Igreja precisa ser despertada internamente. O coração precisa ser instruído e inflamado pela Palavra, para que a prática não seja apenas ativismo, mas fruto de obediência e amor.
O ministério diaconal,
juntamente com a liderança pastoral, pode propor momentos de estudo, reflexão e
oração sobre o papel da Igreja no mundo. Um ciclo de pregações, uma sala de EBD
(Escola Bíblica Dominical), uma série de devocionais, encontros em pequenos
grupos ou assembleias reflexivas — tudo isso pode servir para despertar a
comunidade local para a vocação de olhar para fora, acolher, servir e
testemunhar. O objetivo é claro: romper o paradigma da fé voltada apenas para
dentro e reacender a visão de uma Igreja que ama seus vizinhos como expressão
do amor de Cristo.
Esse processo de
conscientização também passa por um conhecimento real e honesto da comunidade
ao redor da igreja. Quem são os nossos vizinhos? Como vivem? Quais são suas
dores, suas buscas, seus medos? Quais são os dados sociais e demográficos do
bairro? Qual é a faixa etária predominante, a religião mais presente, o nível
de escolaridade, as carências mais evidentes? Ter essa leitura contextual é
essencial para que o acolhimento seja sensível, intencional e relevante.
Uma Igreja que conhece
a sua vizinhança tem mais condições de incluir essa comunidade em sua liturgia,
em sua vida e em sua comunhão. Os cultos dominicais devem ser pensados também
como momentos de acolhimento, onde os de fora possam encontrar abrigo, palavra,
consolo e direção. Isso começa com um novo olhar: o de quem vê além das paredes
do templo e reconhece que o campo missionário começa na porta de entrada da
igreja.
O segundo passo é ouvir
a comunidade.
Outro aspecto fundamental para que a igreja acolha melhor sua vizinhança é a disposição de ouvir a comunidade. Para que o acolhimento seja autêntico e eficaz, é necessário saber como a Igreja é percebida por aqueles que estão ao seu redor. Isso exige humildade e disposição para fazer uma autocrítica honesta: como nossa igreja é vista pelo bairro? Somos reconhecidos como presença de paz, de serviço, de esperança? Ou somos apenas mais um prédio na rua — indiferente, fechado, talvez até inconveniente?
É importante criar
mecanismos de escuta, como pesquisas simples, entrevistas informais, rodas de
conversa ou eventos abertos que promovam diálogo com os vizinhos. Ouvir a
comunidade não significa submeter a Igreja à cultura ou relativizar o
evangelho, mas reconhecer que há aspectos da nossa presença que podem e devem
ser ajustados em amor.
Talvez surjam
observações práticas e legítimas: uma iluminação externa que poderia ajudar na
segurança local; uma fachada pouco acolhedora ou malcuidada, que transmite
afastamento em vez de acolhimento; o uso do estacionamento que incomoda
moradores; ou, ainda, o fato de o prédio ficar fechado durante toda a semana,
sem nenhuma ação voltada para as necessidades reais do bairro. Cada uma dessas
observações pode ser uma oportunidade para demonstrar cuidado, atenção e
serviço.
Ao ouvir com respeito e
sensibilidade, a Igreja dá um passo importante para estreitar laços com a
comunidade e reconstruir pontes que, por vezes, foram desgastadas. O
acolhimento começa com o olhar, mas floresce com a escuta. E quando escutamos
com o coração aberto, somos também moldados para amar melhor.
O terceiro passo é da
humildade.
Além de ouvir a comunidade, é necessário cultivar a humildade de reconhecer que talvez a Igreja não seja, hoje, uma presença relevante no bairro onde está inserida. Em muitos casos, a Igreja não é lembrada, não é procurada, nem sequer é considerada parte da vida comunitária. Essa constatação é séria, pois fere diretamente a missão da Igreja, que é ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13–16). A irrelevância e o esquecimento são sinais de que algo precisa ser revisto com urgência.
Para reconstruir essa
presença e tornar-se novamente visível de maneira significativa, a Igreja pode
iniciar programas simples de acolhimento e aproximação. Cursos de nutrição,
oficinas de artes, atividades esportivas, aulas de reforço escolar ou de línguas
estrangeiras, apoio à educação de crianças e adolescentes — tudo isso pode ser
oferecido de forma acessível à comunidade, como expressão prática do amor
cristão.
Outra estratégia é
incluir a comunidade nas programações regulares da Igreja. Encontros de homens
e mulheres, eventos com jovens, almoços comunitários, celebrações de datas
comemorativas como Natal e Páscoa, ou mesmo a participação em festas de bairro,
podem se tornar oportunidades valiosas para acolher, estreitar laços e
testemunhar a fé. Ao fazer isso, a Igreja comunica que está viva, aberta,
presente — e que é diferente, não por causa de si mesma, mas porque carrega
consigo o nome e a mensagem de Jesus Cristo.
O quarto passo é da
sensibilidade.
Outro aspecto indispensável no acolhimento cristão é a sensibilidade ao sofrimento humano. Vivemos em um mundo marcado por dores profundas: pessoas sofrem em silêncio por não serem ouvidas, padecem de solidão, enfrentam a indiferença, carregam feridas causadas por preconceitos e discriminações. Muitos vivem o luto de entes queridos, outros enfrentam doenças emocionais como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, burnout, além de diversos transtornos psíquicos e sociais que desestruturam a alma.
A Igreja precisa estar
atenta a essas dores. O exemplo de Jesus é nosso referencial máximo: Ele curou
os enfermos, restaurou os perturbados, alimentou os famintos, acolheu os
marginalizados, tocou os intocáveis. Em cada encontro, Ele ofereceu mais do que
palavras — ofereceu presença, compaixão e cuidado. A Igreja que carrega o nome
de Cristo precisa, também, ter espaço e disposição para acolher os que sofrem.
Esse chamado passa
diretamente pelo ministério diaconal, que tem como uma de suas vocações
fundamentais abraçar os abatidos e prover cuidado aos necessitados. A igreja
local precisa criar canais de escuta para aqueles que não têm com quem falar,
canais de assistência para os que enfrentam carência material, e canais de
direção e alento para os que se sentem perdidos. A diaconia precisa ser esse
espaço seguro onde a dor encontra resposta, onde o sofrimento é levado a sério,
e onde a compaixão se traduz em presença, ajuda e amor.